Será que a autossugestão modula a nossa realidade?

Será que a autossugestão modula a nossa realidade?

A autossugestão postula que os indivíduos podem influenciar os seus próprios estados mentais e fisiológicos através da repetição de um pensamento, a chamada sugestão. A equipa de investigação liderada por Elena Azañón testou se a autossugestão pode alterar a perceção somatossensorial dos participantes num dedo. Em três experiências independentes, os participantes foram solicitados a modular a intensidade percebida de estímulos vibrotáteis na ponta do dedo através da autossugestão de que essa perceção parece muito forte (Experiência 1, n = 19) ou muito fraca (Experiências 2, n = 38, e 3, n = 20), enquanto eram solicitados a relatar a frequência percebida. Curiosamente, um aumento na intensidade dos estímulos vibrotáteis, mantendo a frequência constante, pode levar a um aumento ou a uma diminuição na sua frequência percebida. Embora a direção desse efeito seja diferente entre as pessoas, ele é geralmente constante dentro de um indivíduo e pode, portanto, ser usado para testar o efeito da autossugestão num desenho intra-sujeitos. Observou-se que a tarefa de alterar a intensidade percebida de um estímulo tátil por meio da autossugestão modula a perceção da frequência tátil. Este estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação 296/18 - The power of mind: Altering cutaneous sensations by autosuggestion, apoiado pela Fundação BIAL, e publicado na revista científica Scientific Reports, no artigo How the inner repetition of a desired perception changes actual tactile perception.



ABSTRACT

Autosuggestion is a cognitive process where the inner repetition of a thought actively influences one’s own perceptual state. In spite of its potential benefits for medical interventions, this technique has gained little scientific attention so far. Here, we took advantage of the known link between intensity and frequency perception in touch (‘Békésy effect’). In three separate experiments, participants were asked to modulate the perceived intensity of vibrotactile stimuli at the fingertip through the inner reiteration of the thought that this perception feels very strong (Experiment 1, n = 19) or very weak (Experiments 2, n = 38, and 3, n = 20), while they were asked to report the perceived frequency. We show that the task to change the perceived intensity of a tactile stimulus via the inner reiteration of a thought modulates tactile frequency perception. This constitutes the first experimental demonstration that an experimental design that triggers autosuggestion alters participants’ tactile perception using a response orthogonal to the suggested variable. We discuss whether this cognitive process could be used to influence the perception of pain in a clinical context.