Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022 distingue obras sobre autismo, tumores cerebrais e hipertensão

Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022 distingue obras sobre autismo, tumores cerebrais e hipertensão

A cerimónia de entrega da 20ª edição do Prémio BIAL de Medicina Clínica decorreu no dia 8 de fevereiro na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e foi presidida pelo Presidente da República, tendo contado com a presença do Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, do Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira, e do Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

Miguel Castelo-Branco foi o grande vencedor do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022, com a obra “The challenges of Neurodiversity: A Translational Journey into Personalized Medicine in Autism Research", que representa uma visão de 15 anos de percurso do autor na investigação básica e clínica na área do neurodesenvolvimento, e em particular no autismo, influenciada pela sua própria história pessoal, como pai de um jovem com esta condição.

Cláudia Faria foi distinguida com uma Menção Honrosa pela obra “Brain Tumors 360º: from biological samples to precision medicine for patients”, com foco na Brain Tumor Target, uma plataforma centrada no doente, que tem como objetivo contribuir para o conhecimento científico dos tumores cerebrais e, com isso, melhorar o tratamento dos doentes.

A equipa coordenada por Albertino Damasceno foi distinguida com uma Menção Honrosa atribuída à obra “Contribuição para o estudo da Hipertensão Arterial em Moçambique e na África subsaariana: Resultados de um combate de 25 anos”, que pretendia, entre outros objetivos, identificar vários fatores determinantes que possam suportar decisões sobre medidas preventivas e terapêuticas mais adequadas para reduzir a morbilidade e mortalidade associadas à hipertensão.

Além do discurso de encerramento pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a cerimónia contou com os discursos do diretor da FMUP, Altamiro da Costa Pereira, do presidente da Fundação BIAL, Luís Portela, e do presidente do Júri, Manuel Sobrinho Simões, que foi homenageado com um vídeo de agradecimento pelo seu contributo para o sucesso do Prémio BIAL de Medicina Clínica ao longo dos últimos anos.

De recordar que Manuel Sobrinho Simões presidiu ao Júri de quatro edições do Prémio BIAL de Medicina Clínica (2006, 2018, 2020 e 2022), sendo a atual edição a última vez. O professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e atual membro do Júri, José Melo Cristino, assumirá a presidência do Júri do Prémio na próxima edição, anunciou o Presidente da Fundação BIAL durante a cerimónia.

Miguel Castelo-Branco vence Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022 com trabalho de investigação sobre autismo

O trabalho vencedor do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022, premiado com 100 mil euros, apresenta o conceito de Neurodiversidade aplicado à Medicina, em particular ao autismo, e mostra que, apesar das semelhanças entre indivíduos, o cérebro humano transporta marcas únicas que levam a manifestações biológicas e do comportamento muito diferentes, originando a necessidade de tratamentos diferenciados e ajustados a cada pessoa, isto é, Medicina Personalizada.

Com esta visão da “molécula ao homem”, ligando a biologia molecular, imagiologia cerebral e neurociência cognitiva, foram realizados diversos ensaios clínicos, usando fármacos, mas também terapias não farmacológicas com base científica, sobretudo interfaces homem-máquina e jogos imersivos, para tentar melhorar aspetos como o reconhecimento de emoções, a regulação emocional e a ansiedade no autismo.

“O trabalho confirmou que, para compreender e reabilitar melhor o autismo, é preciso ter em conta marcadores neurobiológicos que permitam caracterizar melhor a Neurodiversidade, de forma a concretizar abordagens de Medicina Personalizada e de Precisão, tendo sido crucial o trabalho de equipas multidisciplinares”, explicou Miguel Castelo-Branco, médico, coordenador científico do Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research (CIBIT/ICNAS) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Para Manuel Sobrinho Simões, “o trabalho vencedor reflete um percurso de vida dedicado à investigação, alicerçado na história pessoal do autor, que contribuiu substancialmente para a compreensão da dualidade saúde/doença, permitindo o desenvolvimento de tratamentos personalizados de forma a melhorar competências sociais e de regulação emocional no autismo”.

O Júri do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022 decidiu ainda atribuir duas Menções Honrosas, no valor de 10 mil euros cada uma. Manuel Sobrinho Simões realçou que “foram distinguidos dois trabalhos, no âmbito da patologia molecular dos tumores cerebrais e da epidemiologia da hipertensão arterial na população moçambicana, que demonstram a importância da investigação científica para a evolução da medicina em particular e da sociedade em geral”.

Plataforma para visão 360º de tumores cerebrais garante Menção Honrosa a Cláudia Faria

Distinguido com uma Menção Honrosa, o trabalho da autoria de Cláudia Faria, neurocirurgiã no Hospital de Santa Maria (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte – CHULN),  investigadora no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), pretende contribuir para melhorar o conhecimento científico dos tumores cerebrais, através do desenvolvimento da Brain Tumor Target (BTTarget).

Esta plataforma permite uma visão 360º dos tumores cerebrais, que começa na análise do material biológico, passando pela integração de dados clínicos e de anatomia patológica, pela criação de modelos que simulam a doença humana, e culminando na descoberta de biomarcadores ou novos tratamentos que voltam ao doente sob a forma de ensaios clínicos.

A BTTarget promove a colaboração em projetos de investigação nacionais e internacionais, com o objetivo de ajudar a compreender melhor como se formam os tumores cerebrais e de que forma é possível melhorar o tratamento dos doentes.

Cláudia Faria explicou que “apesar dos avanços no conhecimento da biologia molecular, os tumores cerebrais malignos continuam a ser uma importante causa de morbilidade e mortalidade em crianças e adultos, por isso estas descobertas, após validação em ensaios clínicos em doentes, podem contribuir para a melhoria da sua sobrevida e qualidade de vida”.

Equipa coordenada por Albertino Damasceno recebe Menção Honrosa por obra sobre hipertensão

O Júri atribuiu também uma Menção Honrosa ao trabalho coordenado por Albertino Damasceno, cardiologista no Hospital Central de Maputo e professor catedrático jubilado da Universidade Eduardo Mondlane, reconhecido pela Ordem dos Médicos de Moçambique como o “Pai da Cardiologia em Moçambique”. Além de Albertino Damasceno, a obra distinguida contou com a coautoria de Jorge Polónia (FMUP e Hospital Pedro Hispano), Nuno Lunet (FMUP e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto), António Prista (Universidade Pedagógica de Maputo), Carla Silva Matos (Ministério da Saúde de Moçambique) e Neusa Jessen (Hospital Central de Maputo e Universidade Eduardo Mondlane).

Este trabalho apresenta os resultados de uma ampla investigação no domínio da hipertensão arterial na população de Moçambique, realizada nos últimos 25 anos, fruto de uma colaboração entre a Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) e a FMUP (Portugal), bem como outras instituições académicas africanas e grupos de trabalho internacionais.

Pretendeu-se recolher novas informações relativamente à hipertensão arterial nos indivíduos negros da África subsaariana, e especificamente de Moçambique, conhecer melhor a sua epidemiologia e fisiopatologia, bem como identificar vários fatores determinantes que possam suportar decisões sobre medidas preventivas e terapêuticas mais adequadas para reduzir a morbilidade e mortalidade associadas à hipertensão arterial.

De acordo com Albertino Damasceno, “a hipertensão arterial é o principal fator de risco para a insuficiência cardíaca, para o acidente vascular cerebral e para a cardiopatia isquémica em África”. Neste contexto, o investigador explica que “este trabalho poderá ajudar a individualizar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial para muitos portugueses ou imigrantes de origem africana residentes em Portugal”.

O Prémio BIAL de Medicina Clínica visa galardoar uma obra intelectual, original, de índole médica, com tema livre e dirigida à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância. Criado em 1984, ao longo de 20 edições este galardão distinguiu 310 autores, premiou 108 obras de grande repercussão na medicina, 42 das quais foram editadas e distribuídas gratuitamente pela classe médica. A próxima edição do Prémio BIAL de Medicina Clínica terá lugar em 2024.

 

 

 


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