Sabia que o controlo que sente influencia a sua ação?
Estudo mostra que o sentido de agência resulta da interação entre liberdade de ação, significado emocional das consequências e as pistas que o cérebro integra para decidir quando e porque nos sentimos autores do que fazemos.
Publicado a Dec 29, 2025
O sentido de agência (a sensação de que estamos no controlo das nossas ações e dos seus efeitos) é uma componente central da autoconsciência. Uma meta-análise recente, conduzida por Marika Mariano e Laura Zapparoli, mostra que esta experiência não é fixa: depende de como agimos e do tipo de consequências que obtemos. A equipa analisou 21 estudos (mais de mil participantes) que usaram o paradigma de intentional binding, uma medida que avalia o quão próximos no tempo nos parecem a ação e o seu resultado. Quanto menor parece esse intervalo, maior é o nosso sentido implícito de agência.
A meta-análise revelou três padrões consistentes. Primeiro, ações voluntárias geram sempre uma sensação fiável de autoria, mesmo quando o resultado não é positivo. Segundo, a liberdade de escolha aumenta significativamente essa sensação, em comparação com ações impostas. Terceiro, os resultados das ações modulam o sentido de agência: consequências positivas reforçam-no, enquanto consequências negativas tendem a atenuá-lo, exceto quando esses resultados negativos são emocionalmente relevantes, como em situações moralmente delicadas, socialmente avaliativas ou fisicamente dolorosas. Nestes casos, a carga emocional pode, paradoxalmente, aumentar a perceção de responsabilidade.
No conjunto, estes dados mostram que o sentido de agência resulta da interação entre liberdade de ação, significado emocional das consequências e as pistas que o cérebro integra para decidir quando, e porquê, nos sentimos autores do que fazemos. Este estudo foi publicado na revista científica Neuroscience & Biobehavioral Reviews, no artigo Feeling in control when things go well: A meta-analytical account of how action-outcome valence shapes the implicit sense of agency, no âmbito do projeto de investigação 52/22 - How reward shapes volition: Neural correlates of motivated intentional actions, apoiado pela Fundação Bial.
ABSTRACT
The sense of agency, the feeling of being the author of one’s own actions and their outcomes, is a central aspect of self-awareness. Previous studies have typically relied on highly simplified laboratory tasks involving affectively neutral action–outcome pairs (e.g., tones or lights). While these paradigm are well controlled, they lack motivational and social significance. More recent work, however, has begun to examine how action-outcome influences agency-related processes. To synthetize this emerging evidence, we conducted a meta-analytic review of studies using intentional binding as a measure of implicit agency, focusing on the effects of outcome valence and including potential moderators such as predictability, volitional control, and outcome type.
Results show that intentional binding reliably occurs regardless of whether the actions produce positive or negative outcomes, and the effect was significantly stronger when actions were freely chosen. However, implicit sense of agency was consistently enhanced for positive compared to negative outcomes, suggesting a self-serving bias in agency attribution. Yet, in some contexts - such as morally charged or physically aversive outcomes - this pattern was reversed, highlighting the possible role of contextual salience. These findings support cue integration models of agency and underscore the importance of studying agency in emotionally meaningful and ecologically valid contexts.