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Será que a estimulação do nervo vago pode aumentar a nossa capacidade de auto-compaixão?

Estudo investiga se a estimulação do nervo vago pode amplificar os efeitos de práticas contemplativas, como o treino de imaginação mental com foco na autocompaixão. Os resultados abrem novas perspetivas para promoção da saúde mental e do bem-estar.

Publicado a Oct 6, 2025

Será que a estimulação do nervo vago pode aumentar a nossa capacidade de auto-compaixão?

O nervo vago, conhecido por regular funções como o ritmo cardíaco e a respiração, também está envolvido na regulação de estados emocionais, como a empatia, a compaixão e o bem-estar. Nos últimos anos, a estimulação transcutânea do nervo vago (tVNS) tem ganho destaque como técnica não invasiva, segura e promissora para complementar intervenções psicológicas.

Num estudo liderado por Sunjeev Kamboj, investigou-se se a estimulação deste nervo poderia amplificar os efeitos de práticas contemplativas, como o treino de imaginação mental com foco na autocompaixão. Durante oito sessões, 120 participantes saudáveis foram distribuídos por quatro grupos, que combinavam estimulação ativa ou simulada com dois tipos de treino mental: um focado na autocompaixão e outro neutro. Os investigadores mediram variáveis como autocompaixão, autocrítica, atenção plena (mindfulness), variabilidade da frequência cardíaca e viés atencional para rostos compassivos.

Os resultados mostraram que a combinação de tVNS com treino de autocompaixão produziu aumentos rápidos e significativos na autocompaixão e na atenção plena, já na primeira sessão. O treino de autocompaixão, por si só, revelou efeitos acumulativos ao longo das sessões. Além disso, participantes que receberam tVNS apresentaram um aumento adicional na autocompaixão como traço.

Curiosamente, alterações no tamanho da pupila e nos movimentos oculares – indicadores ligados à atenção e à resposta emocional – sugerem que a intervenção influenciou, de forma subtil, mas mensurável, a forma como o cérebro responde a estímulos emocionais. Estes resultados abrem novas perspetivas para integrar neuroestimulação e práticas contemplativas na promoção da saúde mental e do bem-estar.

Este trabalho foi publicado na revista científica Psychological Medicine, no artigo Electroceutical enhancement of self-compassion training using transcutaneous vagus nerve stimulation: results from a preregistered fully factorial randomized controlled trial, no âmbito do projeto de investigação 140/20 - Stimulating compassion: Using transcutaneous vagus nerve stimulation (tVNS) to probe compassionate behaviour, apoiado pela Fundação Bial.

ABSTRACT

Background
Physiological signals conveyed by the vagus nerve may generate quiescent psychological states conducive to contemplative practices. This suggests that vagal neurostimulation could interact with contemplative psychotherapies (e.g. mindfulness and compassion-based interventions) to augment their efficacy.

Methods
In a fully factorial experimental trial, healthy adults (n = 120) were randomized to transcutaneous vagus nerve stimulation (tVNS) plus Self-Compassion-Mental-Imagery Training (SC-MIT) or alternative factorial combinations of stimulation (tVNS or sham) plus mental imagery training (MIT: SC-MIT or Control-MIT). Primary outcomes were self-reported state self-compassion, self-criticism, and heart rate variability (HRV). Exploratory outcomes included state mindfulness and oculomotor attentional bias to compassion-expressing faces. Most outcomes were assessed acutely on session 1 at the pre-stimulation (T1), peri-stimulation (T2), and post-MIT + stimulation (T3) timepoints, and after daily stimulation+MIT sessions (eight sessions).

Results
During session 1, a significant Timepoint × Stimulation × MIT interaction (p = 0.025) was observed, reflecting a larger acute T1→T3 increase in state self-compassion after tVNS+SC-MIT, with similar rapid effects on state mindfulness. Additionally, significant Session × MIT and Session × Stimulation interactions (p ≤ 0.027) on state mindfulness (but not self-compassion) suggested that tVNS+SC-MIT’s effects may accumulate across sessions for some outcomes. By contrast, changes in state self-criticism and compassion-related attentional bias were only moderated by MIT (not stimulation) condition. HRV was unaffected by stimulation or MIT condition.

Conclusion
tVNS augmented the effects of SC-MIT and might, therefore, be a useful strategy for enhancing meditation-based psychotherapies. Our findings also highlight the value of oculomotor attentional metrics as responsive markers of self-compassion training and the continued need for sensitive indices of successful vagal stimulation.

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