A consciência de que a vida terá inevitavelmente um fim parece ser exclusiva do ser humano. A morte é, provavelmente, a única experiência verdadeiramente universal. É também singular, pois é uma experiência que marca uma transição irreversível. As experiências de quase morte, contudo, deixam uma marca profunda em quem as vivenciou. Estas experiências levantam muitas questões: devemos pensar na morte como um instante ou como um processo? Como podemos - ou devemos - preparar-nos para a morte? O que sabemos sobre os mecanismos biológicos que conduzem à morte e que ocorrem durante o processo de morrer? Como é que diferentes culturas abordam a morte? E será que a experiência da morte pode alterar a forma como pensamos a realidade? Apesar do caráter universal da morte, estas questões têm permanecido, em larga medida, fora do âmbito da investigação científica - uma lacuna que o 15.º Simpósio "Aquém e Além do Cérebro" da Fundação Bial procurará colmatar, reunindo proeminentes neurocientistas, psicólogos e filósofos num profundo diálogo interdisciplinar ao longo de um programa multifacetado que se estende por três dias.

Abertura

O Simpósio terá início no final da tarde do dia 8 de abril com uma palestra de abertura proferida pelo eminente neurocientista Christof Koch (Seattle, EUA), que recorrerá a experiências extraordinárias, como as experiências de quase morte, para questionar o fisicalismo, a perspetiva segundo a qual a consciência pode ser totalmente reduzida a partículas materiais e às suas interações. Em oposição a esta visão, Koch defende o idealismo e o panpsiquismo, que descreve como compatíveis com o naturalismo e com o método científico.

Primeira Sessão

A primeira sessão, dedicada aos “Processos de fim de vida”, terá lugar na manhã de 9 de abril. Moderada por Helané Wahbeh (Novato, EUA), abordará os múltiplos processos que ocorrem à medida que a morte se aproxima. Contará com intervenções de Michael Rera (Paris, FR), Sam Parnia (Nova Iorque, EUA) e Marjorie Woollacott (Eugene, EUA). Rera centrar-se-á na biologia do processo de morrer. Parnia explorará a possibilidade de a vida e a morte serem talvez mais bem entendidas como pontos de um mesmo contínuo. Woollacott dedicar-se-á ao fenómeno surpreendente da lucidez terminal. A sessão encerrará com uma conferência magistral de Michael Nahm (Freiburg, DE), que fará uma síntese dos fenómenos invulgares associados às experiências de fim de vida.

Segunda Sessão

A segunda sessão, intitulada “Momentos de fim de vida”, decorrerá na manhã de 10 de abril e será dedicada às experiências de quase morte (EQMs). Moderada por Etzel Cardeña (Lund, SE), terá início com uma intervenção de Janice Holden (Denton, EUA), que abordará as experiências anómalas relatadas por quem viveu uma EQM. De seguida, Charlotte Martial (Liège, BE) oferecerá uma perspetiva neurocientífica sobre as EQMs. Bárbara Gomes (Coimbra, PT) questionará sobre o que será mais importante para as pessoas nos seus últimos momentos de vida. Por fim, a conferência magistral será proferida por Jim Tucker (Charlottesville, EUA), que analisará relatos intrigantes de memórias de vidas passadas em crianças e questionará como deveremos interpretar este fenómeno.

Terceira Sessão

A terceira sessão, na manhã de 11 de abril, será dedicada às “Crenças e impactos de fim de vida” e será moderada por Veena Kumari (Londres, UK). Procurará documentar como o contexto cultural em que a morte ocorre molda a sua experiência. Mira Menzfeld (Zurique, CH) desenvolverá uma abordagem etnográfica para estudar a perceção e vivência da morte em diferentes culturas. Allan Kellehear (Newcastle upon Tyne, UK) mostrará como uma abordagem antropológica da experiência da morte pode ajudar a compreender as condições que tornam o morrer uma experiência significativa. Marieta Pehlivanova (Charlottesville, EUA) fará uma síntese das características mais comuns das experiências de quase morte. A manhã encerrará com uma conferência magistral de Fanny Charasse (Bruxelas, BE), que se centrará nas interpretações xamânicas e psicológicas das experiências de quase morte, relatadas por pessoas que participaram em rituais com Ayahuasca.

Apresentações orais

Para além da organização do seu simpósio bienal, a Fundação Bial também apoia investigação básica relevante para o estudo da mente. Na tarde de 9 de abril, os investigadores apoiados pela Fundação Bial terão oportunidade de apresentar oralmente o seu trabalho, dando uma visão geral, em 2 minutos, do seu poster, que estará exposto durante o simpósio. Esta sessão empolgante será moderada por Mário Simões (Lisboa, PT).

Workshops

O Simpósio será ainda fortemente enriquecido por um conjunto notável de quatro workshops participativos, que decorrerão em paralelo, na tarde de 10 de abril. No Workshop 1, Rainer Goebel (Maastricht, NL) e Stefan Schmidt (Freiburg, DE) irão dialogar com o convidado Yesche Regel (Bonn, DE) sobre a forma como a tradição budista concebe a morte e como as suas práticas ajudam as pessoas a prepararem-se para ela. O Workshop 2, moderado por Chris Roe (Northampton, UK), contará com Etzel Cardeña e Marieta Pehlivanova, que farão uma exploração aprofundada das experiências de quase morte. O Workshop 3, conduzido por Rui Costa (Seattle, EUA) e com a participação de Julia Verne (Londres, UK), será dedicado às dimensões pessoais e sociais dos cuidados paliativos. Finalmente, o Workshop 4, moderado por Miguel Castelo-Branco (Coimbra, PT), terá Bárbara Gomes a conduzir uma sessão íntima e interativa, em que os participantes poderão (de forma anónima) partilhar o que mais valorizam no fim de vida e comparar as suas escolhas com as de outras culturas. A seguir aos workshops terá lugar um encontro informal, com queijo e vinho, oferecendo aos participantes a possibilidade de, no final do dia, partilharem as suas experiências e reflexões.

Mesa-redonda final

O Simpósio encerrará na tarde de 11 de abril com uma mesa-redonda final, moderada por Axel Cleeremans (Bruxelas, BE), que contará com a participação de Etzel Cardeña, Janice Holden, Christof Koch, Charlotte Martial, Sam Parnia e Marieta Pehlivanova. Esta será uma oportunidade para continuar a refletir e a partilhar as principais conclusões do simpósio, oferecendo ao público um último momento para interagir com os oradores convidados.

Com o seu 15.^o Simpósio, a Fundação Bial espera envolver os oradores e o público em torno de uma reflexão profunda e interdisciplinar sobre aquela que é uma das experiências centrais da vida humana: a consciência de que ela terá um fim.