Será que sentir o bebé mexer ajuda a criar um vínculo mais forte?
Investigadores acompanharam 51 grávidas no terceiro trimestre e descobriram que maior frequência de movimentos fetais estava significativamente associada a níveis mais elevados de vínculo materno, independentemente de idade gestacional e outros fatores.
Publicado a Oct 20, 2025
Os movimentos fetais são muito mais do que pequenos “pontapés” sentidos na barriga. Representam uma das primeiras formas de interação entre o bebé e o mundo exterior, oferecendo à grávida sinais reconfortantes sobre o bem-estar e desenvolvimento do feto. Para além de indicarem vitalidade, estes movimentos desempenham um papel fundamental na construção da ligação emocional entre mãe e bebé, contribuindo para o fortalecimento do vínculo materno-fetal (VMF).
À medida que a gravidez avança, sobretudo no terceiro trimestre, este vínculo torna-se mais evidente e relevante. Os movimentos do bebé ajudam a formar representações mentais do bebé, estimulam comportamentos de cuidado e preparam emocionalmente para a parentalidade. Estudos anteriores mostram que a perceção e até a contagem dos movimentos fetais estão associadas a níveis mais elevados de VMF, sobretudo quando combinadas com gestos como tocar na barriga ou falar com o bebé.
Um estudo recente, liderado por Helena Rutherford, foi mais além na investigação do vínculo entre a mãe e o bebé durante a gravidez. Utilizou uma técnica de monitorização fetal avançada – conhecida como actocardiografia - que permite registar, de forma objetiva, os movimentos e os batimentos cardíacos do bebé através de sensores colocados na barriga da mãe. Através desta tecnologia, os investigadores acompanharam 51 grávidas no terceiro trimestre e descobriram que uma maior frequência de movimentos fetais estava significativamente associada a níveis mais elevados de vínculo materno, independentemente do estado emocional da mãe, idade gestacional, número de gestações anteriores ou conhecimento do sexo do bebé.
Estes resultados sublinham a importância de valorizar e prestar atenção aos movimentos fetais como uma forma de comunicação precoce. Uma atenção consciente a estes sinais simples e naturais pode ser uma estratégia não invasiva e eficaz para fortalecer o vínculo pré-natal e promover cuidados mais atentos e sensíveis após o nascimento.
Este trabalho foi publicado na revista científica Early Human Development, no artigo Associations between fetal movement and maternal-fetal attachment in late pregnancy, no âmbito do projeto de investigação 111/16 - A psychophysiological perspective of the transformative experience of pregnancy, apoiado pela Fundação Bial.
ABSTRACT
Maternal-fetal attachment (MFA) represents the evolving psychological bond between a pregnant person and their fetus, reflecting early emotional investment and expectations of the maternal role. Maternal awareness and response to fetal movement are key components of MFA, suggesting that fetal activity may serve as a meaningful cue in the development of maternal representations of the baby. Previous work shows that engaging in fetal movement counting significantly enhances MFA scores, and mothers who perceive greater fetal movements have higher MFA scores compared to those who perceive fewer movements. However, it remains unclear if this association reflects perception alone, or whether associations between objective fetal movement and MFA exist. Therefore, we objectively measured fetal movement alongside MFA in 51 pregnant women (mean age 28.9 years, SD = 6.0) in their third trimester (mean gestational weeks 36.7, SD = 2.2). Fetal movement was objectively measured with a Toitu MT-516 fetal actocardiograph and MFA was assessed using the Prenatal Attachment Inventory-Revised. Greater fetal movement was associated with higher MFA scores, independent of maternal mood, parity, knowledge of fetal sex, and gestational age. Taken together, these findings underscore the relevance of fetal movement within the psychology of pregnancy, suggesting that fetal movement outside of maternal perception may function as a communicative signal to enhance MFA. As maternal-fetal attachment is linked to postpartum bonding and caregiving, understanding these prenatal associations provides insight into how early psychological and relational processes shape postnatal development across the perinatal period.