Notícias
Apoios

Criatividade em tempo real: O que acontece no cérebro dos músicos quando improvisam?

Investigadores analisaram como diferentes níveis de liberdade criativa ativam redes cerebrais específicas e concluíram que improvisar implica uma reorganização dinâmica do cérebro entre emoção, técnica e estrutura.

Publicado a Oct 26, 2025

A improvisação musical é uma das formas mais puras de criatividade humana. Por ser simultaneamente espontânea e estruturada, permite observar como o cérebro gera ideias novas e relevantes em tempo real. Foi precisamente esta característica que levou uma equipa internacional a estudar o cérebro de pianistas de jazz enquanto tocavam o standard “Days of Wine and Roses” em três condições distintas: tocar de memória (byHeart), improvisar com base na melodia (iMelody) e improvisar livremente com base nos acordes (iFreely).

Recorrendo à ressonância magnética funcional e à técnica LEiDA (que observa como o cérebro se reorganiza dinamicamente durante uma atividade), os investigadores analisaram como diferentes níveis de liberdade criativa ativam redes cerebrais específicas. Em ambas as condições de improvisação, observou-se maior ativação de áreas auditivas, motoras e da rede de saliência, associadas à perceção musical, à execução motora e ao prazer. Em contraste, redes ligadas ao pensamento espontâneo, à reflexão e à tomada de decisão, como a Default Mode Network (DMN) e a Executive Control Network (ECN) foram menos ativadas na improvisação mais livre (iFreely).

Este estudo mostra que improvisar é mais do que inspiração: é uma reorganização dinâmica do cérebro entre emoção, técnica e estrutura. Ao revelar como o cérebro se adapta para criar música, os investigadores oferecem novas pistas sobre os mecanismos da criatividade humana. Este estudo foi publicado na revista científica Annals of the New York Academy of Sciences, no artigo Creativity in Music: The Brain Dynamics of Jazz Improvisation, no âmbito do projeto de investigação 263/20 - Brain routes to creativity: Uncovering creative flow in Jazz with neuromodulation, apoiado pela Fundação Bial e liderado por Henrique Fernandes.

ABSTRACT

Jazz improvisation is a controlled yet ecologically valid framework for investigating spontaneous creative behavior. We examined spatiotemporal brain dynamics when skilled musicians applied different strategies to improvise on a jazz standard. We performed rest and task-based functional magnetic resonance imaging on 16 skilled jazz pianists playing “Days of Wine and Roses”, with varying levels of improvisation freedom: (1) playing the melody from memory (byHeart); (2) improvising on the melody (iMelody); and (3) freely improvising (iFreely) on the chord changes. Behaviorally, higher levels of improvisational freedom were associated with a larger number of notes, greater melodic entropy, and reduced pitch predictability. Using the Leading Eigenvector Dynamics Analysis (LEiDA), we found increased activity in the reward system for all conditions compared to rest, including the orbito-frontal cortex. In the improvisation conditions compared to rest, there was a significantly higher probability of a brain state comprising auditory and sensorimotor areas related to musical performance and right insula belonging to the posterior salience network. The highest level of improvisational freedom (iFreely) had a higher occurrence of a brain substate, including the default mode, executive control, and language networks. These networks are involved in planning complex behaviors, decision-making, and motor control – all relevant for understanding neural signatures of creativity.

Partilhe

Send through